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Seminário sobre citrus ressalta benefícios dos polifenóis da laranja para a saúde

Por Eduardo - Pesquisa

Última atualização em 09/04/2018

Simpósio idealizado pelo FoRC expõe evidências sobre o efeito benéficos dos compostos bioativos do suco e destaca o papel das flavanonas; ainda assim, consumo vem caindo nos principais mercados do suco brasileiro.

 

Após dois dias de palestras sobre os impactos do suco de laranja na saúde humana, algumas conclusões se sobressaíram no I Simpósio Internacional Compostos Bioativos de Citrus e Benefícios à Saúde, realizado em São Paulo, nos dias 22 e 23 de março: primeiro, há fortes evidências dos efeitos benéficos do suco de laranja à saúde, além de ser fonte em vitamina C e fibras, e pesquisas estão sendo conduzidas para atestá-las. Segundo: entre os compostos bioativos presentes no suco, destaca-se o papel das flavanonas, uma das classes de flavonoides, como um dos principais responsáveis por esta ação. E terceiro: apesar dos benefícios da bebida, houve uma queda no consumo nos principais mercados do suco brasileiro.

O evento, organizado pelo Centro de Pesquisa em Alimentos (FoRC – Food Research Center) e pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), com apoio da Fundecitrus, CitrusBR e ILSI Brasil, reuniu pesquisadores, profissionais da área de saúde, e a indústria do setor citrícola sobre um único tema: a laranja. Na pauta das discussões, estudos que tentam delinear o efeito dos polifenóis do suco na saúde humana e os mecanismos pelos quais eles atuam.

“A laranja e os sucos puros são ricos em polifenóis - como as flavanonas- , e outros bioativos como os terpenoides e carotenoides. Em um copo de suco de 250 mL encontramos aproximadamente 25 a 60 mg de flavanonas”, afirmou o Dr. Francisco Tomás Barberán, do Centro de Edafología y Biología Aplicada del Segura (Espanha).

“Descobertas recentes revelaram que os compostos fenólicos podem modular algumas vias de sinalização celular que modulam a expressão de genes que regulam, por exemplo, a resposta inflamatória’, comenta o Professor Marcelo Macedo Rogero da Faculdade de Saúde Pública da USP. Compostos fenólicos como a flavanona e a hesperidina apresentaram atividade antioxidante e anti-inflamatória tanto em modelos de estudo in vitro como in vivo, indicando o papel benéfico desses compostos na redução do risco de doenças crônicas não transmissíveis.

“Temos evidências do efeito benéfico das flavanonas na saúde, mas é muito difícil demonstrá-las”, diz Barberán. Essa dificuldade tem diversas causas. “Primeiro, cada indivíduo responde de uma maneira à ingestão de bioativos. Fizemos estudos sobre a absorção desses compostos e notamos que diferentes voluntários têm padrões muito diferentes de absorção. Isso pode estar relacionado a variáveis como gênero, idade e estado de saúde”, explicou ele.

Palestra do Dr. Francisco Tomás Barberán do CEBAS-CSIC Murcia, Espanha

  

Palestra do Dr. Marcelo Roggero  da Faculdade de Saúde Pública da USP e pesquisador do FoRC

 

Um outro aspecto crucial é papel da microbiota intestinal. “O aproveitamento adequado de determinados compostos depende da composição dessa microbiota. Como a composição dos micro-organismos no intestino depende de fatores como a obesidade, alimentação e idade, os efeitos dos flavonoides de citrus em diferentes voluntários também são diferentes”, resumiu Barberán. Sem contar os fatores que afetam a biodisponibilidade desses compostos e sua metabolização. Segundo o cientista, a biodisponibilidade pode variar de acordo com o modo como se produz a bebida.

No Brasil, de acordo com a Professora Neuza Mariko Aymoto Hassimotto, da Faculdade de Ciências Farmacêuticas da USP (FCF/USP) e pesquisadora do FoRC, a laranja contribui com um terço do consumo diário de flavonoides totais pela população. “Neste caso, quase a totalidade de flavanonas é proveniente principalmente do consumo de laranja, o que demonstra sua importância na nossa dieta.”

Benefícios cardiovasculares - O pesquisador Dragan Milenkovic, do Institut National de la Recherche Agronomique (INRA), da França, falou sobre o papel das flavanonas em relação às doenças cardiovasculares. “Há indícios de que as flavononas são efetivas para modular a expressão gênica e padrões de sinalização celular. Mas não sabemos muito ainda, porque os estudos foram realizados in vitro.” Milenkovic relata que, em experimento realizado com ratos que ingeriram dieta hiperlipídica seguida de suco de laranja ou de uma bebida ‘controle’, houve uma redução de 18% na aterosclerose dos animais que ingeriram suco, quando comparados ao outro grupo, que não o consumiu. “Sabemos que as flavanonas dos citrus podem ter efeito cardioprotetor, mas ainda são ensaios clínicos, que sugerem uma função benéfica no caso de doenças cardiovasculares.”

Palestra da Dra. Neuza Hassimotto da FCF/USP e pesquisadora do FoRC

  

 

 

 

 

Benefícios para a cognição – Alguns pesquisadores estão verificando se é possível reduzir o declínio cognitivo que caracteriza diversos tipos de demência com a ingestão de suco de laranja. “Há diferentes fatores responsáveis pelo declínio cognitivo: alguns, como idade e histórico familiar, não se pode influenciar. Mas nos fatores relacionados a uma vida saudável, tais como a dieta, a prática de esportes, a redução na ingestão de bebidas, é possível interferir e, assim, melhorar a função cognitiva”, diz Dr. David Vauzour, da University of East Anglia, Reino Unido.

Segundo ele, sabe-se que um alto consumo de flavonoides pode melhorar a função cognitiva e reduzir o risco de declínio. “Fizemos testes cognitivos com grupos de indivíduos saudáveis de diferentes idades e notamos que a capacidade de estar alerta foi maior naqueles que ingeriram um copo de suco de laranja diariamente. Como sabemos que as concentrações desses compostos no suco são na grandeza de nanomolares, queremos entender como essa baixa concentração podem modular as respostas do indivíduo”, explica Vauzour, referindo-se à concentração molar (um nanomolar é a milionésima parte de um molar).

Infância e gestação – A nutrição no início da vida – ou antes mesmo da gestação – foi o tema do professor da FCF Thomas Ong, também pesquisador do FoRC. Segundo ele, a composição da dieta por ambos os genitores – pai e mãe – pode influenciar e/ou predispor ao aparecimento de algumas doenças na prole, entre eles alguns tipos de câncer, regulados por mecanismos epigenéticos. “Além do código genético clássico, há um outro, o código epigenético, que diz respeito a uma ‘informação genética extra’. No início da vida e no momento da lactação, esse processo está muito ‘plástico’, ou seja: supomos ser possível intervir positivamente, modulando a expressão de genes da mãe e do pai por meio da administração de polifenóis”, resume. Assim, uma das linhas de pesquisa do Dr. Thomas é a influência dos polifenóis da laranja sobre a regulação dos mecanismos epigenéticos e como eles influenciam na proteção dos filhos ao câncer.

Preocupação semelhante com os primeiros anos da criança tem o médico pediatra Dr. Rubens Feferbaum, da Faculdade de Medicina da USP. Ele lembrou que, apesar das recomendações da Organização Mundial da Saúde, de que crianças devem comer, ao menos, cinco porções de fruta por dia, a média mundial de consumo é de menos de uma porção diária. “Há pesquisas mostrando a inadequação de ingestão de micronutrientes por crianças e, também, a prevalência de anemia ferropriva. Ora, sabemos que o ácido ascórbico, presente nos frutos cítricos, melhora o mecanismo de absorção do ferro. Mas os profissionais de saúde sabem pouco a respeito do tema e, no geral, não consideram que um copo de suco pode substituir uma porção de fruta. Soma-se a isso a atual polêmica em torno do consumo excessivo de frutose por crianças, que acaba desencorajando a recomendação do suco. Isso se deu por conta do aumento do consumo de xarope de milho com alto teor de frutose em bebidas gasosas. Mas, se formos avaliar como se deve, descobriremos que a quantidade de frutose é muito baixa na laranja.”

Segundo Larissa Popp Abrahão, diretora de RI da Citrus BR, o consumo nos quarenta maiores mercados do suco brasileiro recuou 19%. “Houve um aumento de 123 mil toneladas em outros mercados, mas ele não compensa as perdas em mercados tradicionais como Reino Unido, França, Alemanha e EUA – onde deixamos de vender 529 mil toneladas de suco.” Ela afirma que a queda do consumo se deve a vários fatores: mudanças de hábitos, falta de informação sobre os benefícios da bebida e a forte polêmica acerca da frutose presente no suco, que ganhou destaque na mídia nos últimos anos.

Para o professor Franco Maria Lajolo, do FoRC, organizador do evento ao lado da professora Neuza Hassimotto, é preciso desmistificar certas informações que correm na mídia. “Sobretudo informações sobre o metabolismo do açúcar, como a de que a frutose faz mal para o fígado. É preciso ingerir muita frutose para ter um problema hepático. Deve-se incentivar discussões com a participação da comunidade científica e de órgão públicos relacionados.” Segundo Lajolo, ainda não há pesquisa suficiente para dizer claramente ao consumidor que o suco de laranja vai melhorar sua síndrome metabólica, mas há informação de qualidade para desmistificar a informação incorreta veiculada pela mídia e principalmente pelas redes sociais.

 

Os resumos das palestras estão disponíveis para download.

Resumos das Palestras

 

I SIMPÓSIO INTERNACIONAL COMPOSTOS BIOATIVOS DE CITRUS E BENEFÍCIOS À SAÚDE

                                                  Abertura do Simpósio. Na mesa (esq. para dir.) a Profa. Neuza Hassimotto, o Prof. Franco Maria Lajolo e a Profa. Bernadette D. G. M. Franco, professores da FCF-USP e pesquisadores do FoRC.

 

Palestra do Dr. Paul Kroon do QUADRAM Institute - UK

 

Dr. Paul Kroon do QUADRAM Institute - UK

 

  

Palestra do Prof Marcelo Roggero da FSP-USP e pesquisador do FoRC

Palestra do Dr. Rubem Feferbaum da Fac. de Medicina - USP

Palestra da Dra. Larissa Abrahão, diretora de RI da Citrus BR

Palestra do Prof. Francisco Tomás Barberán do CEBAS-CSIC - Múrcia, Espanha

 

Palestra da Profa. Silvia Cozzolino da FCF-USP e pesquisadora do FoRC

 

 

Dr. David Vazour da Univ. de East Anglia - UK

 

 

Dr. Dragan Milenkovich do Institut National de la Recherche Agronomique (INRA), França

 

Palestra do Dr. Leandro Peña de Múrcia, Espanha

Prof. Thomas Ong da FCF-USP e pesquisador do FoRC

Dra. Thais Borgnes da Fac. de Ciências Farmacêuticas da UNESP - Araraquara

Prof. Dr. Sergio Alberto Rupp de Paiva da UNESP de Botucatu e pesquisador do FoRC

Encerramento

 

 

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