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Pesquisa avalia se houve inovação pedagógica no ensino e na pesquisa com a pandemia

Por Uelinton Pinto - Pesquisa

Última atualização em 28/08/2020

Realizado por pesquisadores da FCF-USP/FoRC, da UECE e da Unicamp, o estudo é focado na área de Alimentos e seu objetivo é contribuir com subsídios para melhorar as estratégias de ensino-aprendizagem.

A pandemia da COVID-19, causada pelo novo coronavírus (Sars-CoV-2), acelerou o processo de adoção de metodologias e ferramentas mais inovadoras no ensino e na pesquisa? Especificamente, como e em que grau isso se deu na graduação e pós-graduação da área de Alimentos?  Essas são as questões centrais de uma pesquisa que está sendo aplicada junto a docentes e pesquisadores da área nas universidades brasileiras. Os interessados em participar podem acessar o questionário da pesquisa neste link: https://forms.gle/SoXXZpTn6PHKf84x8

O estudo está sendo feito pela nutricionista Jéssica de Aragão F. F. Finger  e pela cientista de alimentos Emília Maria França Lima, ambas doutorandas da Faculdade de Ciências Farmacêuticas da Universidade de São Paulo (FCF-USP), que trabalham sob a orientação de Uelinton Manoel Pinto, professor do Departamento de Alimentos e Nutrição Experimental da FCF-USP e integrante do Centro de Pesquisa em Alimentos (Food Research Center – FoRC). Participam também do projeto os professores Mariza Landgraf (FCF/USP e FoRC), Jorge Herman Behrens (FEA/Unicamp) e Jones Baroni Ferreira de Menezes (FAEC/UECE). O objetivo é obter dados que contribuam para o conhecimento das estratégias de ensino, pesquisa e recursos didáticos adotados pelos docentes e pesquisadores nessa área.

“Com as restrições do distanciamento social, boa parte dos docentes passou a utilizar ferramentas de TIC [Tecnologia da Informação e Comunicação] para o ensino remoto a fim de evitar a interrupção das atividades acadêmicas. Isso requer práticas pedagógicas inovadoras que, na verdade, já deveriam estar sendo adotadas pelos docentes muito antes da pandemia”, afirma Finger.  “Pois a tendência hoje é o professor se tornar um mediador no ensino-aprendizagem, fornecendo instruções significativas que despertem o interesse e o senso crítico dos alunos”, acrescenta Lima.

Some-se a isso o fato de que a nova geração de alunos já é fruto da era da transformação digital, na qual muitos docentes ainda têm dificuldade de assimilá-la em suas atividades. “A educação moderna exige uma renovação nas estratégias metodológicas. Os alunos têm hoje habilidades e necessidades diferentes, que precisam ser exploradas em conjunto com novas tecnologias”, lembra Finger. “Daí a importância de nossa pesquisa, pois é preciso entender os desafios e as limitações que os docentes enfrentam para propor meios de superá-los”, reforça Lima.

Delay na educação – A palavra delay é um termo usado em TIC para explicar o atraso de um sinal acústico chegar no seu receptor. No ensino superior brasileiro, pelo menos no que se refere à área de Microbiologia de Alimentos, esse delay já ocorre no emprego de práticas pedagógicas inovadoras associadas a novas tecnologias. É o que mostrou uma pesquisa feita por Finger em 2019.

A pesquisa foi aplicada junto a docentes de diversos cursos de nível superior, de instituições públicas e privadas, que contam com disciplinas nessa área, tais como Nutrição, Engenharia de Alimentos, Ciência e Tecnologia de Alimentos, Medicina Veterinária, Farmácia e Gastronomia. “Das 117 respostas obtidas, é possível verificar que a maioria dos professores ainda usa métodos de ensino tradicionais”, resume Finger. “Palestras, seminários, estudo de caso e estudo guiado são as abordagens mais usadas, e as ferramentas tecnológicas se limitam, em sua maioria, a vídeos e ambientes virtuais de aprendizagem”, resume a pesquisadora.

Segundo ela, quando foram questionados sobre a preferência pelo ensino tradicional em vez de recursos de aprendizagem ativos, a maioria – 79,5% – disse optar pela fusão das aulas tradicionais com uma metodologia ativa, tendo como justificativa que a combinação de ambos favorece a aprendizagem. “No entanto, a concepção atual de ensino está relacionada ao processo de mediação, visando à construção de conhecimento e não mera transmissão dele”, pondera Finger.

Treinamento é o entrave – Um dos gargalos constatados na pesquisa foi a falta de treinamento, de uma formação pedagógica específica para o desenvolvimento de habilidades de ensino. Embora 74,4% dos professores relataram ter participado de um curso com essa finalidade, a maioria era de curta duração (2 a 60 horas) ou de disciplinas de graduação. Em busca de melhorarem sua qualificação, alguns ingressaram na pós-graduação, mas, como se sabe, são programas mais focados na pesquisa, com conteúdo insuficiente para o desenvolvimento de habilidade de ensino.

Os docentes – no caso dessa pesquisa, a maioria de instituições públicas, em regime de dedicação integral – também relataram ter pouco tempo para o planejamento de aula, pois precisavam dividir seu tempo com atividades de pesquisa, extensão, e muitas vezes, para resolver problemas administrativos.

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